Texto por Matheus Vasconcelos
Após a eliminação da seleção brasileira discutimos sobre o resultado a partir de diferentes vieses.
Houve aqueles que destacaram a saúde mental, aqueles que apontaram a necessidade de treino psicológico, que falaram da pressão, das famílias, da ausência da psicologia em uma comissão técnica ou da presença em outras seleções.
É certo que não faltou assunto para envolver a psicologia do esporte na discussão sobre a eliminação do Brasil.
Porém, gostaria de compartilhar meu ponto de vista sobre o acesso e o acompanhamento psicológico por psicólogos esportivos serem um direito do atleta.
No Brasil, parece que ainda temos resistência em olhar para o atleta como um trabalhador, como alguém que exerce uma profissão e que para exercer sua profissão, precisa ter auxílio de todas as ciências do esporte (ou da saúde se preferirem) disponíveis para seu acompanhamento.
E penso que não há outra forma de quebrar essa resistência que não seja pelo caminho da educação das famílias e atletas brasileiros. Eles precisam ser informados mais e mais sobre seus direitos.
Obviamente, por considerar um direito básico de saúde, haverá aqueles atletas que optam por ter ou não acompanhamento profissional de psicologia, porém, é preciso que a informação e conhecimento para essa tomada de decisão esteja à sua disposição.
Ela jamais pode estar restrita ao querer das pessoas ou estaremos (enquanto país) falhando com nossos atletas.
Que de um lado, psicólogos esportivos estejam à sua disposição através dos diversos profissionais que ofertam serviços pela psicologia do esporte no país, que o atleta saiba que pode procurar um acompanhamento individualizado, mas que de outro, que lhe seja garantido o suporte dentro das instituições esportivas.
E que não seja um suporte temporário, um suporte “às pressas” com medo de não alcançar um resultado. Que seja um suporte contínuo, permanente e livre para ser exercido ética e cientificamente.
Não podemos mais acreditar na justificativa do “não tem dinheiro” ou do “é coisa de louco”. São justificativas completamente distantes do que é a realidade financeira das grandes instituições e de outro do acesso que temos à informação.
Precisamos nos questionar se esta resistência não passa de uma herança maldita da época em que atletas não tinham direito algum reconhecidos e se submetiam até à assinatura dos “contratos em branco” para viver o “sonho de ser jogador”.
Na minha opinião, atletas de futebol tem notado cada vez mais que esta herança não lhe pertence e tem buscado profissionais de psicologia por conta própria.
E se isto está acontecendo, temos que ter a firmeza (e talvez a coragem) de lembrar dia após dia que ter um psicólogo esportivo não é somente sobre estar mais confiante nas cobranças de pênaltis, é antes de tudo um direito do atleta.
Matheus Vasconcelos
Amazonense, psicólogo, especialista em psicologia do esporte e mestre em saúde pública (Fiocruz Amazônia).
Associado ABRAPESP e integrante da Comissão de Atualização Profissional.
Idealizador da Escola de Psicologia do Esporte (E.P.E) e Escola de Psicologia do Atleta (E.P.A).
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